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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Carta de Amir Haddad sobre "A Mulher Arrastada"

Ano passado eu escrevi uma peça – mais uma; outra. Era um texto sobre a Cláudia Silva Ferreira – mulher, pobre, negra, moradora do morro no RJ, brutalmente assassinada em março de 2014. A peça aborda o sequestro simbólico do seu nome e o gradual apagamento tanto da voz quanto da imagem da “Cacau” na imprensa brasileira. Foi um processo muito doloroso pesquisar e escrever sobre isso. Porém, após entregue, o material não foi aceito no projeto original para o qual havia sido escrito.

Depois de um tempo com o texto “engavetado” resolvi mostrá-lo a algumas pessoas. Ainda no ano passado encaminhei a um grupo daqui de Porto Alegre, mas não teve grande repercussão. Então na metade desse ano decidi incorporar o Nelson Rodrigues em início de carreira e passei a enviá-lo a diversos amigos que trabalham com teatro ou outras áreas artísticas apenas para saber suas reações e ouvir o que eles achavam da obra enquanto ela ainda é apenas palavras dispostas em um certo número de páginas. E os comentários começaram a chegar, mas desta vez entusiasmados. E no meio disso tudo veio também um convite para encenar a peça (mas só no final deste post você vai ficar sabendo quem irá dirigir...).

Durante o Porto Alegre Em Cena, mês passado, eu imprimi algumas cópias e, na maior cara de pau, saí falando da peça e as distribuindo a várias pessoas  algumas das quais nunca tinha visto antes, mas que estavam participando do festival. E eis que recebo a primeira carta-resposta. E ela vem de ninguém menos que Amir Haddad, um dos cofundadores do Teatro Oficina, diretor do “Antígona”, com Andrea Beltrão (apresentado aqui durante o Em Cena deste ano), e um dos grandes encenadores brasileiros, com uma carreira teatral que compreende mais de 60 anos de atividade (pra vocês terem uma ideia, eu assisti a uma peça do Amir em 1996 – uma montagem de "O Mercador de Veneza”, de Shakespeare, com Pedro Paulo Rangel e Maria Padilha no elenco).

Na carta, a qual ele gentilmente autorizou divulgar e que está reproduzida abaixo, Haddad fala sobre o que sentiu ao ler A Mulher Arrastada, se referindo à peça como “pós-teatro”, alcunha que ele criou e que norteia seu trabalho, e sobre o qual declarou recentemente:

“Basta um segundo de teatro no pós-teatro para estragar tudo”.




Outra de suas declarações que, penso, cabe ao texto e ao projeto que estamos começando, seria esta: 

“É preciso fazer nascer políticas imediatas de salvação da cidadania, de recuperação e restauração do afeto, da alma popular e essas coisas que só o Teatro pode fazer”.

No fim da carta, há também uma declaração de Amir (uma dessas formalidades que quem recebe texto toda hora pra ler se vê obrigado a fazer) deixando claro que ele não tem intenção de encenar a minha peça. Não era necessário, pois – conforme havia lhe dito na nossa rápida conversa – quem vai encenar a 1ª montagem deste texto é a nossa querida Adriane Mottola, diretora da Cia. Stravaganza, e quem vai dar voz a tragédia de Cláudia é a maravilhosa Celina Alcântara.

E pra quem ficou curioso, em breve divulgaremos mais informações sobre o projeto da montagem.

EVOÉ!
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