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domingo, 7 de julho de 2013

Por uma dramaturgia que ultrapasse as fronteiras

Depois de ver algumas das minhas peças circulando por diversas capitais brasileiras e ter algumas delas apresentadas e publicadas também no exterior (leia mais aqui), chegou a vez de outro dos meus textos estrear no centro do país: Hotel Fuck - Num Dia Quente a Maionese Pode Te Matar, ambicioso e exuberante projeto da Santa Estação Cia. de Teatro que será apresentada neste mês em SP e em agosto no RJ. 


Pra ser mais preciso, a estreia de Hotel Fuck fora do RS ocorreu ainda no ano passado quando estivemos em Campinas/SP para apresentarmos a saga completa durante um final de semana. Depois disso, em abril deste ano, apresentamos no Festival de Teatro de Curitiba com uma incrível recepção do público que lotou as duas sessões no espaço da Sutil Cia. de Teatro. A diferença é que agora Hotel Fuck chegará às capitais de SP e RJ para a última etapa da circulação financiada pelo Prêmio Myram Muniz 2011. Uma viagem que encerra uma fase do próprio espetáculo e que, esperamos, talvez abra espaço para futuras viagens para outras regiões do país.

"Hotel Fuck" na programação do Festival de Teatro de Curitiba, em abril desse ano

Para aqueles que acompanham um pouco do meu trabalho, não é segredo que a saga em 3 episódios comandada pela incansável diretora, professora e pesquisadora Jezebel de Carli é das que eu considero uma das minhas melhores peças - uma evolução pessoal em termos de escrita, estrutura e narrativa; uma jornada sombria e irônica de personagens "quadrinescos" envoltos em questionamentos existenciais, além de um retrato da overdose de referências culturais em que nós e boa parte do público contemporâneo estamos imersos. O espetáculo, que será apresentado em São Paulo/SP nos dias 12, 13 e 14 de julho, e nos dias 02, 03 e 04 de agosto no Rio de Janeiro/RJ, sempre com entrada franca, recebeu também o Prêmio Myriam Muniz 2010 para montagem e o Prêmio Braskem de Melhor Ator 2011, além de elogios por onde tem passado. 

Com a diretora Jezebel de Carli, no ponto de encontro do Festival de Curitiba. 

E para celebrar essa boa fase do meu trabalho - e aproveitar para divulgá-lo também ao público de outros estados - resolvi escrever esse post relembrando todas as minhas peças que já navegaram por aí, de um porto a outro, num grande esforço conjunto entre artistas, técnicos e produtores. Tudo para chegar a um número cada vez maior de espectadores e tornar nossa arte menos regional e estagnada.  

Então é isso. Apertem os cintos e tenham todos uma boa viagem! 


ON THE ROAD 

De todas as peças de minha autoria, até agora a que mais percorreu o país foi - sem dúvida alguma - o monólogo  9 Mentiras Sobre a Verdade, espetáculo da Cia. Teatro Líquido, dirigido por Gilson Vargas e com atuação premiada de Vanise Carneiro (vencedora do Prêmio Açorianos de Melhor Atriz 2010). Assim que encerramos a temporada de estreia em Porto Alegre, a peça foi selecionada para um projeto de circulação do SESC e através dele percorreu 8 cidades do RS. A seguir, o espetáculo não parou mais de viajar: foram quase uma dezena de mostras e festivais de teatro Brasil afora: Recife, Brasília, Caxias do Sul, Rio de Janeiro, Londrina, Presidente Prudente, São João da Boa Vista. A peça foi também apresentada no Uruguai em duas ocasiões: uma em Montevidéu, à convite do Teatro El Galpón, e a outra no Teatro Municipal de Rivera, a convite da MAS Produções. Não bastasse isso, o espetáculo fez uma temporada de cerca de um mês em São Paulo, no Teatro Commune. Agora, depois de tantas viagens, a equipe planeja buscar incentivo através de editais de circulação, pois assim as anotações mentais de Lara - a protagonista da peça - poderão ser conhecidas por ainda mais pessoas. A boa notícia é que a Prefeitura de São Paulo convidou 9 Mentiras Sobre a Verdade para mais uma temporada num dos teatros da cidade. Portanto, daqui a pouco estaremos de volta por lá. Assim que eu tiver mais definições de datas e local, eu aviso, podem apostar.   

Luminoso anunciando a peça "9 Mentiras Sobre a Verdade" em Rivera. 

Curiosidades: as duas primeiras peças de minha autoria que saíram do RS foram - coincidentemente - duas encenadas pela então jovem Cia. Espaço em BRANCO: Andy / Edie e Teresa e o Aquário. Além de ficarem em cartaz na capital gaúcha por cerca de um ano e meio e percorrerem algumas cidades do interior do RS, ambos espetáculos foram apresentados a plateias de outros estados - respectivamente, as de São Paulo (Campinas) e Pernambuco (Recife). Em 2006, durante uma viagem que fiz ao exterior, Andy / Edie foi traduzida para o inglês e depois publicada em Português aqui no Brasil em 2007. Já a versão integral de Teresa e o Aquário foi publicada em Portugal no final do ano passado, onde recebeu também uma leitura dramatizada com atores portugueses.

Trabalho em equipe: "9 Mentiras Sobre a Verdade" e MAS Produções.

KEEP WALKING

É evidente que apesar da correria e do cansaço, é sempre bom quando um dos nossos trabalhos cruza territórios e pode, então, ser apreciado por públicos diferentes. Isso é imprescindível para o autor, para o grupo e também para a carreira do espetáculo, pois conhecer a reação de diferentes plateias em diferentes contextos culturais é um movimento importante para a arte teatral e para o artista em geral. E das peças que eu já escrevi (ou criei a dramaturgia), a mais recente a fazer essa transição foi O MAPA_, espetáculo encenado pela jovem Cia. Teatro Geográfico que transpõe justamente as dificuldades de uma viagem por um território hostil (uma adaptação do livro "O Céu Que Nos Protege", de Paul Bowles) e acaba exigindo do público uma participação ativa, tanto pelo deslocamento deste por entre as salas e ambientes de prédios históricos onde a encenação ocorre, quanto pela possibilidade de assistir à peça por dois ângulos distintos: os dos protagonistas Port e Kit. A montagem - que há poucas semanas esteve em cartaz no RJ na sede da Cia. dos Atores para uma brevíssima temporada de imenso sucesso de público - teve desde sua estreia em 2010 diversas temporadas em Porto Alegre, sempre com sessões lotadas. Ano passado o dramaturgo e escritor cubano Reinaldo Montero, de passagem pela capital gaúcha à convite da 58ª Feira do Livro, esteve presente na última apresentação da peça no Centro Cenotécnico e ficou impressionado com a qualidade do espetáculo, deixando registrado seus elogios à toda equipe e elenco. 

Curiosidades: Em 2011 a peça O MAPA_ foi indicada à 9 Prêmios Açorianos de Teatro, incluindo Melhor Espetáculo e Melhor Dramaturgia. A ironia daquela edição do prêmio é que esta peça concorria com outro trabalho também de minha autoria: o próprio Hotel Fuck, que estava indicado em 10 categorias, incluindo Melhor Espetáculo e Melhor Dramaturgia. Mas a ironia maior (ou seja lá como podemos classificar tamanho disparate por parte dos jurados) ainda estava por vir: das 19 indicações que ambas montagens somavam, nenhuma das duas levou um prêmio sequer! Vai entender...   


TO INFINITY... AND BEYOND


Cartaz de divulgação da leitura dramática de "Teresa e o Aquário" em Portugal.

E apesar de todas as coisas boas que têm acontecido até aqui, a sensação é de que ainda há muito chão a percorrer. Depois da publicação de Teresa e o Aquário em Portugal e da leitura dramática de Último Andar em Havana, no mês passado, novos convites para publicações no exterior estão surgindo... E também, é claro, novos convites para escrever peças por aqui. Então, seguindo esse foco de expansão de minha dramaturgia dos palcos até outros territórios (espaciais e formais), tenho o prazer de dividir com quem está acompanhando este texto até aqui uma das notícias mais empolgantes dos últimos tempos: um convite para  transpor uma das minhas peças para as telas de cinema. Através da produtora que cuida da negociação (e por incentivo do próprio diretor), nos próximos dias partirei em viagem de imersão no trabalho, com o objetivo de adaptar o texto ainda inédito e transformá-lo num roteiro de longa-metragem. A função está quase toda acertada, faltando, é claro algumas definições de prazos e datas, mas é provável que as filmagens do longa iniciem ainda no ano que vem. Mas quando chegar a hora vou divulgar por aqui ou no meu programa semanal na rádio (OverDrama, na Mínima FM, o qual apresento toda terça-feira e no qual falo sobre teatro e cinema). Por enquanto, continuo trabalhando exaustivamente nos projetos que vão surgindo, pois apesar da agitação de viagens e tudo mais que possa acompanhar, o que importa mesmo é continuar fazendo coisas das quais possamos nos orgulhar no futuro. E meu trabalho é - com certa absoluta - a mais importante delas.

Obrigado e até breve.




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